O princípio da estereoscopia

Na figura ao lado representa-se esquematicamente o processo de visão binocular:

Trata-se de uma projecção, num plano horizontal, da seguinte situação: em baixo os dois olhos (esquerdo e direito), a meio dois objectos - pontos 1 e 2, respectivamente castanho e azul claro - situados a diferentes distâncias dos olhos. O dois segmentos horizontais grossos representam dois planos verticais, e em ambos estão indicadas as projecções, a partir dos olhos, dos pontos 1 e 2. A correspondência é assinalada pelas cores dos pontos projectados e pelas letras E e D, correspondentes aos olhos de onde se está a projectar. Por simplicidade, considerámos apenas os casos em que o plano de projecção está para lá de todos os «objectos» considerados, ou para cá de todos eles.

Na figura, a semi-recta partindo do olho direito para o ponto castanho (1) contém as duas projecções desse ponto, também indicadas a castanho. Só com a visão desse olho, é difícil localizar em que posição realmente está o objecto 1 (pode estar em qualquer ponto dessa semi-recta, nomeadamente num qualquer dos três pontos castanhos da figura que se situam nessa semi-recta). O que permite ao cérebro localizar o ponto e avaliar a distância dele, é (entre outros factores) a conjugação das informações visuais fornecidas pelos dois olhos: as duas semirectas intersectam-se apenas num ponto, onde está o objecto 1.

Note-se que as imagens «vistas» pelos dois olhos são diferentes uma da outra: por exemplo, o olho direito «vê» o ponto azul à direita do castanho, enquanto o olho esquerdo vê-os na posição trocada. Poder-se-ia pensar que isto provocaria uma confusão na interpretação final da imagem. Na verdade, são diferenças deste tipo que são «aproveitadas» pelo cérebro para «concluir» qual dos dois pontos está mais próximo e mesmo para fazer uma estimativa das distâncias relativas deles. Há também um mecanismo automático que leva o cérebro a controlar a convergência dos dois olhos. Para uma visão nítida do ponto castanho, os olhos devem estar orientados em duas direcções que fazem um ângulo maior do que no caso do ponto azul, mais distante.

Esse mecanismo pressupõe um «tratamento» automático muito rápido, pelo cérebro, das informações fornecidas pelos dois olhos. Com efeito, o cérebro descobre o grau de convergência com que os olhos se devem orientar, a partir de um reconhecimento de semelhanças de formas, nas imagens fornecidas pelos dois olhos. O mecanismo funciona muito bem na quase totalidade das situações correntes, embora seja possível criar cenários que «enganem» o cérebro.

Alguns desses cenários permitem enganá-lo num sentido previamente delineado. Se, da figura acima, retivermos o que está para baixo do primeiro segmento horizontal, obtemos a figura seguinte.

Um observador nesta situação começa por ver quatro pontos no plano representado pelo segmento: dois azuis claros e dois castanhos. Se for possível fazer com que o olho esquerdo se concentre no ponto azul esquerdo, no mesmo instante em que o direito se concentra no azul direito, o cérebro poderá interpretar as duas imagens como provindo de um mesmo ponto, dando a sensação de esse ponto estar mais longe que o plano (esse ponto é imaginado na posição correspondente à figura de cima).

É essencialmente um processo deste tipo que é usado nas diferentes formas de estereoscopia, por mais variadas que sejam as formas usadas para o conseguir.

A capacidade descrita - de levar o olho esquerdo a concentrar-se na imagem que foi preparada para ele, enquanto o direito se concentra na que lhe foi destinada - é extremamente variável de pessoa para pessoa. Enquanto algumas pessoas conseguem fazê-lo sem a mínima dificuldade, podendo ver imediatamente em relevo, sem qualquer dispositivo, um par de imagens especialmente preparadas para o efeito, a maior parte não o consegue sem ajuda de dispositivos apropriados.